A Ansiedade
Já me contradizendo, depois de ter dito que este não é um blog sobre ansiedade, ela vai ser o primeiro assunto sobre o qual irei escrever.
Você lembra de quando se deu conta que sofria de ansiedade? De quando você percebeu os primeiros sintomas? De quanto um psicólogo te diagnosticou, de fato, com transtorno de ansiedade? Eu me lembro de algumas coisas. Lembro, na verdade, de vários processos que, acredito eu, me levaram a ser o que sou hoje. Mas não de todos. Até hoje, tem muita coisa que ainda não consigo entender. Lembro, também, do evento que colocou na minha cabeça a possibilidade de ter ansiedade, que foi a primeira vez que ela se manifestou em mim de forma física.
Eu estava deitado pra dormir com meu namorado na época (ah, esqueci de mencionar na minha apresentação que eu sou gay) e, do nada, um aperto surgiu no meu peito. Não era uma dor insuportável, mas era preocupante. Em seguida, senti meus braços e pernas formigando e logo veio a falta de ar. Naquele momento, com todo o meu conhecimento médico, a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi: vou ter um infarto! E minha família tem histórico de infarto. Na época eu não tinha tanta informação sobre crises de ansiedade, nunca tinha tido uma, então nem cheguei a cogitar essa possibilidade. Peguei um Uber para o Pronto-Atendimento, colhi sangue (para algum exame de enzima que eu não sei direito) e fiz um eletrocardiograma. Tudo normal. Foi aí que o médico que estava no plantão explicou: o que eu tive foi uma crise de ansiedade.
Uns poucos meses depois eu tive novamente e, novamente, fui ao PAS (Pronto Atendimento de Saúde). Hoje eu já me acostumei com elas, mas eu admito que tenho muito medo de não ir ao PAS em todas as crises. Porque, de fato, os sintomas que eu tenho me remetem muito a um infarto e, dado meu histórico familiar, eu penso: e se um dia for realmente um infarto? Eu posso morrer por não buscar ajuda…
Mas, antes disso, eu já tinha experimentado muitos sintomas psicológicos. Eu tenho recordações de quando eu comecei a não gostar da minha aparência. De quando eu comecei a perder a confiança em mim. De quando eu perdi a coragem de falar e me abrir para outras pessoas. De quando eu comecei a desanimar e procrastinar minhas atividades. De quando eu comecei a me preocupar exageradamente com tudo. Alguns desses sintomas eu me lembro como surgiu. Outros eu apenas lembro de ter. E tudo é interligado de alguma forma. Pelo menos foi para mim. Nasce uma coisa, que leva à outra, que leva à outra, que leva à outra e, se esse processo não for interrompido, vira uma bola de neve imparável. Posso escrever melhor sobre esses processos e suas correlações em outra ocasião. Aliás, irei mesmo.
O que eu me lembro bem é que eu fui uma criança muito extrovertida e brincalhona, mesmo com minha timidez, e hoje eu tenho dificuldades em manter um diálogo com meus próprios amigos. Me lembro de ser um menino esbelto, bonito, e hoje eu não consigo encontrar um simples elogio à minha aparência. Me lembro que era um aluno nota 10, hoje eu até continuo sendo, porém coloco em xeque o que isso agregou, de fato, em minha vida, além de me sentir inseguro ao conversar sobre assuntos que eu domino, ou deveria dominar. E, claro, me lembro de como é a dor no peito e a falta de ar das malditas crises aleatórias e espontâneas, muitas vezes em momentos inoportunos.
Eu já cheguei a pensar que essas dores e demais sintomas físicos fossem a pior coisa que eu iria experimentar. Já ouvi, inclusive, outras pessoas dizendo isso. Até mesmo pessoas que não tem ideia do que é sofrer de ansiedade. Mas eu não poderia estar mais enganado. Hoje eu penso que o pior sintoma da ansiedade é a forma como ela te trava e como isso atrasa sua vida. A forma que ela te faz sofrer por algo que pode nunca acontecer. Te prende em fantasias na sua cabeça, te impedindo de seguir em frente, de fazer planos, pois, afinal, na sua cabeça você já falhou. E como dói, não de uma forma física, você saber que todo o problema, toda a situação, está somente na sua cabeça e, mesmo assim, não conseguir tomar nenhuma atitude, ainda que você tenha plena consciência do que precisa ser feito. Como dói ver todos os seus amigos crescendo, construindo uma vida inteira, e você estagnado, com um medo absurdo de dar um único passo em qualquer direção. É um sentimento de impotência, de perda de controle, tão horrível que eu aceitaria uma dor no peito por semana em troca, pois, pra mim, a dor psicológica me afeta muito mais do que qualquer dor física que a ansiedade traz.
E aí eu fico curioso: será que só eu penso assim? Alguém por aí não consegue suportar a dor no peito? Alguém consegue lidar com o fato de que sua vida está parada? Não faz sentido pra mim, mas entendo que cada um é cada um. Cada um tem suas próprias tolerâncias e cada um vai reagir de forma diferente para cada sintoma. Mas eu adoraria ler sobre outros pontos de vista. Qual é o seu?
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